A música latina atravessou um ponto de virada. O que antes era visto como um fenômeno regional agora molda o mercado musical global. Com a digitalização e a reconfiguração do consumo de entretenimento, gêneros como reggaeton e corrido – além de produções latinas no pop e trap – vêm atingindo públicos em escala inédita.
Esse movimento tem um impulsionador claro: a Geração Z. Os jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010 cresceram em um cenário onde barreiras culturais não definem suas preferências musicais.
Diferente das gerações anteriores, que estavam limitadas por limites geográficos e tecnológicos, além das influências de grandes veículos e gravadoras, a GenZ cresceu em um cenário bem diferente, que influencia um consumo mais diverso e cosmopolita.
Por exemplo, segundo o Spotify Culture Next BR 2023, 86% da Geração Z no Brasil afirmam que consomem músicas ou podcasts para conhecer novas culturas e experiências. Além disso, 72% gostam de ouvir música em outros idiomas, reforçando seu interesse por sons globais.
Com acesso ilimitado a plataformas de streaming e redes sociais, essa geração não apenas consome música de diversos países, como também influencia diretamente quais sons se tornam populares.
Essa mudança transformou o papel da música latina na indústria, impactando desde o alcance dos artistas até o posicionamento de marcas que agora incorporam essa estética e narrativa em suas estratégias.
O que significa para o futuro do mercado? Como a Geração Z segue impulsionando esse cenário?
Essas são algumas das questões que buscamos responder aqui, analisando o impacto do streaming, a viralização de tendências e as oportunidades que isso cria para diferentes setores. Continue lendo e confira!
Como a Geração Z está consumindo música?
A Geração Z já conheceu um mundo onde o consumo de música (e dados, de maneira geral) é acelerado, dinâmico e altamente conectado ao digital. Plataformas como Spotify, TikTok e YouTube tornaram a descoberta musical mais aberta, permitindo que estilos de diferentes países circulassem sem as barreiras que antes existiam nos meios tradicionais.
O estudo de Geração Ctrl Z da Consumoteca destaca que esse público hiperconectado, é também exigente e engajado. Com isso, seu impacto na música, seja nos streamings ou nas redes sociais já é determinante para tendências globais.
Alguns fatores centrais que diferenciam essa geração no consumo musical são:
✔ Hiperconectividade e multitasking: Essa geração está constantemente alternando entre plataformas, consumindo música enquanto navega em redes sociais, assiste a vídeos curtos ou interage com outras formas de entretenimento digital.
✔ Consumo audiovisual dominante: A GenZ prioriza experiências visuais associadas à música, o que justifica o peso do TikTok e do YouTube na popularização de artistas e gêneros musicais.
✔ Preferência por curadoria algorítmica: Diferente de gerações anteriores, a Geração Z não se apega a gêneros fixos ou artistas específicos – ela descobre música através de playlists automatizadas, trends de redes sociais e recomendações personalizadas dos algoritmos.
✔ Identidade e personalização: O estudo reforça que essa geração vê a música como um reflexo de sua identidade e humor. Isso justifica o crescimento de gêneros nichados, como corridos tumbados, hyperpop e regional mexicano, que antes tinham um público mais limitado.
✔ Streaming como meio principal, mas não único: O estudo destaca que, embora o Spotify e o YouTube sejam as plataformas mais usadas para música, o TikTok é hoje a principal ferramenta de descoberta musical.
A explosão viral da música latina no TikTok
O TikTok continua sendo a maior força na popularização da música latina, moldando trends e impulsionando artistas para o topo dos charts globais. Em 2025, a plataforma desempenhou um papel essencial na viralização de diversos sucessos, ampliando ainda mais a penetração de músicas latinas em mercados diversos.
Entre os destaques do ano, “DtMF” (“Debí Tirar Más Fotos”), de Bad Bunny, se tornou um dos maiores fenômenos da plataforma. O hit inspirou vídeos de nostalgia e registros pessoais, criando um movimento que ultrapassou 10 bilhões de visualizações na hashtag #DtMF.
No streaming,”DtMF“, faixa-título do seu aclamado álbum “Debí Tirar Más Fotos”, recebeu 11,5 milhões de reproduções em apenas 24 horas no Spotify, tornando-a música mais ouvida na história da plataforma.
Além dela, outras cinco faixas do novo álbum ficaram no top 10 do Spotify: “Baile Inolvidable”, “Nuevayol”, “Voy a Llevarte Pa PR”, “Veldá” e “Weltita”. Todas as 17 canções do álbum estão entre as 50 mais ouvidas do mundo.
Com todo o sucesso pavimentado, o porto-riquenho Bad Bunny já figura no top 3 dos mais ouvidos no Spotify entre todos os músicos mundiais. Mas além disso, ele é hoje o artista latino mais escutado de todos os tempos no streaming, ficando à frente de ícones como Shakira, Daddy Yankee e Peso Pluma.
Além dele, outros latinos vem dominando o cenário musical com trends globais:
✔ “La Víctima” – Feid & Yandel: O reggaeton acelerado da faixa viralizou com coreografias e trends de vídeos de casal.
✔ “Ex-Special” – Rauw Alejandro & Tainy: Se destacou no TikTok e no Instagram Reels com vídeos de desafios e transições cinematográficas.
✔ “Gata Only” – FloyyMenor & Cris MJ: Explodiu em 2024 – acumulando 64 milhões de vídeos e 56 bilhões de visualizações no TikTok, e vem consolidando o crescimento do trap chileno globalmente.
✔ “Capaz (Merenguetón)” – Alleh & Yorghaki: A viralização dessa faixa elevou o merenguetón a um novo patamar, garantindo ao duo apresentações em festivais europeus (Los40).
Um grande fenômeno recente é Peso Pluma, que levou o corrido mexicano a um patamar global. Os streams de suas músicas aumentaram quase 8.000% nos primeiros oito meses de 2023, levando o artista ao posto de 5º mais ouvido globalmente naquele ano, com cerca de 9 bilhões de reproduções totais, segundo o Spotify.
Peso Pluma continuou sua ascensão meteórica em 2024, solidificando seu lugar como o segundo artista latino mais ouvido no mundo, segundo o Spotify Wrapped. Seus álbuns “ÉXODO” e “GÉNESIS” dominaram as paradas, classificando-se no Top 5 Global Latin Albums, enquanto sua colaboração com Karol G em “QLONA” foi uma das faixas mais tocadas do ano passado.
Seu hit Ella Baila Sola, em parceria com Eslabon Armado, fez história ao tornar-se a primeira música do México a atingir 1 bilhão de reproduções no streaming – um feito inédito para a cena regional.
O Spotify também registrou um aumento superior aos 400% nos streams na música latina nos últimos cinco anos, impulsionado majoritariamente pela Geração Z.
O poder do TikTok não se limita apenas à viralização de faixas. Ele também influencia as estratégias das gravadoras e artistas, que passaram a lançar músicas já pensadas para performar bem na plataforma, seja com drops curtos e cativantes, seja com elementos sonoros que facilitam trends e desafios.
Com essa dinâmica, músicas latinas continuam a se espalhar rapidamente para públicos não hispânicos, atingindo até mercados como Japão e Coreia do Sul, onde faixas em espanhol começaram a figurar entre as mais virais da plataforma em 2025.
Quando o viral se torna tendência global
O impacto da música latina não se limita ao TikTok. A dominância do gênero nos charts de plataformas como Spotify, Apple Music, Billboard e YouTube reforça o quanto ele se consolidou como um dos maiores segmentos da indústria musical global.
No Spotify, os números confirmam essa ascensão. Em 2024, cinco dos dez artistas mais ouvidos eram latinos, e o crescimento do gênero continua acelerado. De acordo com dados de 2024 da Luminate, o espanhol é agora o segundo idioma mais consumido na música globalmente, atrás apenas do inglês. Nos Estados Unidos – até final do ano passado, as músicas em espanhol representavam 8,1% do mercado, mais que o dobro do que era em 2021.
Segundo o Global Music Report 2025, mais recente relatório da IFPI (International Federation of the Phonographic Industry) a América Latina experimentou um aumento significativo nas receitas de 22,5% em 2024, o que marcou o 15º ano consecutivo de crescimento para a região.
O streaming continuou o principal impulsionador e foi responsável por 87,8% das receitas de música gravada na região. Nos charts da Billboard, a presença latina chegou a um nível inédito. Em 2024 e 2025, a Billboard Hot 100 registrou um número recorde de faixas latinas no Top 10, um feito impensável anos atrás.
Artistas como Karol G, Feid e Rauw Alejandro estão disputando posições de destaque com nomes tradicionais do pop e do hip-hop. Além disso, o Billboard Global 200, ranking que mede o desempenho das músicas mundialmente, teve músicas em espanhol liderando posições por mais semanas do que qualquer outro idioma em 2024.
O YouTube, por sua vez, segue sendo uma peça fundamental para a difusão da música latina, especialmente em mercados onde o streaming pago não é tão popular. Videoclipes de artistas como Rosalía, Jhayco e Maluma acumulam bilhões de visualizações, garantindo que o gênero se mantenha altamente visual e acessível ao público global.
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O interesse da Geração Z em movimentos culturais para além do seu território, aliado à sua hiperconectividade, foi essencial para a ascensão global da música latina, permitindo que estilos regionais alcançassem mercados antes inacessíveis e que artistas emergentes disputassem espaço com nomes já estabelecidos.
Além disso, essa junção de fatores abre caminho para novas possibilidades de diálogo com a Gen Z. A questão não é mais se a música latina conquistará novos mercados, mas sim até onde essa expansão pode nos levar.
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