Para começar, uma playlist com a Evolução da Música Eletrônica no Brasil
Os primeiros DJs a ganharem projeção
Desde os anos 90, temos no Brasil grandes DJs e produtores de dance music, e alguns deles foram responsáveis por lançar muitas músicas importantes para o mercado, várias delas exportadas e reconhecidas mundo afora, numa época onde tínhamos a produção contínua de vinys e quando o download digital começou a dar as caras.
Começando a contar um pouco a história da música eletrônica no Brasil, podemos citar entre alguns desses nomes o DJ Meme (que produziu grande parte dos artistas pop brasileiros nas últimas décadas.
Além do remix do hit “Estoy Aqui” da Shakira, que acabou consagrando a cantora no país e no mundo), Renato Cohen (com sua música “Pontapé”, que quando tocada pelo DJ britânico de techno Carl Cox ganhou o mundo e até ganhou uma versão revisitada em 2013), Anderson Noise, Mau Mau, XRS Land e por fim DJ Patife e DJ Marky, dois artistas que fizeram o gênero drum’n’bass acontecer tanto no Brasil como na Europa.
É importante lembrar que DJ Marky lançou também o seu maior hit, “LK (Carolina Carol Bela)”, uma regravação de uma música de Jorge Ben Jor e que essa faixa foi tocada incansavelmente por mais de 10 anos nas pistas de todo o mundo.
DJ Marky | Fonte: Divulgação/VEJA RIO
Porém no passado eram poucos que conseguiam dar esse “pontapé” inicial e conseguir ter reconhecimento com o seu material autoral, numa época onde apenas os gringos eram realmente valorizados na nossa terra. DJ brazuca (infelizmente) era raro ser headliner nos eventos dentro do Brasil. Ao mesmo tempo, a maioria dos DJs brazucas não valorizavam a pequena cena local tocando as músicas produzidas aqui, a não ser as que viravam grandes hits por conta das rádios.
E resumindo: antigamente para um super club ou grande evento bombar (de verdade) era necessário recorrer aos grandes artistas internacionais.
Os grandes eventos começam a acontecer no Brasil
Skol Beats | Fonte: Divulgação/Alataj
Os grandes eventos começaram a surgir por aqui e o Skol Beats foi o marco inicial. Com sua primeira edição em 2000 em São Paulo, foi o primeiro grande festival de música eletrônica que aconteceu no Brasil, sendo realizado por diversos anos até 2008.
Vieram grandes artistas como Basement Jaxx, Justice, Armin Van Buuren, Steve Angello, Miguel Migs, Pendulum, Christian Smith, Dubfire, The Youngsters, Green Velvet, Derrick May e muitos, muitos outros, além de ter os brasileiros Marky, Anderson Noise, CIC, Murphy, DJ Andy, Fabricio Peçanha e Life is a Loop (projeto de Fabrício) no line-up, entre muitos outros.
É bom lembrar também que o Life is a Loop elevou o status do artista de música eletrônica no país, levando a apresentação de DJs a um outro patamar por conta de toda a produção audiovisual de seus shows, até então sendo algo inédito no país.
Bandas e grandes nomes mundiais do gênero passaram a incluir o Brasil em sua rota para grandes turnês, como Moby, The Chemical Brothers, Groove Armada, Hot Chip, Thievery Corporation, The Prodigy, Air e o inesquecível show do Daft Punk no Tim Festival em 2006.
Tivemos o pai da house music do mundo Frankie Knuckles, (falecido há 7 anos) tocando também no Tim Festival em 2005. E em 2004, Fatboy Slim repetiu na Praia do Flamengo, no Rio, o que podemos chamar do primeiro grande festival de música eletrônica no mundo, o “Big Beach Boutique”, que aconteceu em Brighton Beach no Reino Unido.
Esse evento histórico inspirou todo o mercado de shows a apostar no potencial da música eletrônica para grandes massas e tratando o DJ como superstar, no mundo e também no Brasil, abrindo assim todas as portas possíveis para a produção de eventos e festivais desse tipo.
No Rio de Janeiro, festivais como a Bunker Rave e o Chemical Music Festival surgiram, se consolidando e fazendo história. Grandes clubs como a Bunker em Copacabana, além do Manga Rosa e do L.O.V.E. em São Paulo foram muito importantes para o fortalecimento da cena eletrônica no país também.
Grandes hits brazucas
Felguk | Fonte: Divulgação/DJ Music Mag
No meio da década, vimos o crescimento exponencial de outros quatro grandes artistas brasileiros: DJ Marky, Anderson Noise, Gui Boratto e o duo Felguk. Marky foi o primeiro artista brasileiro a entrar no disputado ranking Top 100 DJs da revista inglesa DJ Mag, em 2002, na posição 52.
Em seguida foi a vez de Anderson Noise, que ficou três anos seguidos no ranking, de 2006 a 2008, e em um dos anos, conquistou a 26a posição. Gui Boratto entrou também em 2009 e Felguk estreou em 2011, ficando até 2014. Enquanto isso Gui Boratto ganhava o mundo com seu álbum “Chromophobia” (2007), lançado pela Kompakt, que apresentava o hit “Beautiful Life”.
Logo depois, Gui foi convidado para remixar artistas consagrados como Massive Attack, Wankelmut, Booka Shade e Agoria. Poucos sabem, mas Gui Boratto já produzia músicas do segmento pop e dance nos anos 90, como a banda Sect.
FC Nond se consolidou e também fortaleceu a cena do tribal house no Rio de Janeiro, na época exclusivamente voltada para o público LGBTQIA+, lançando mais de 200 produções e seu remix para “Be More Shake”, de Afrika Bambaataa entrou para a trilha sonora da série americana “Queer As Folk”. É dele também a música pop “Land Of Love”, em que criou o pseudônimo Blue Nond e foi sucesso nas rádios comerciais nos anos 90.
Alguns anos depois, o DJ Meme lançou o maior hit de sua carreira, “Chanson Du Soleil”, onde a primeira versão teve os vocais de Rogério Flausino e que foi inspirada nas manhãs que o DJ tocava no club Privilège, em Búzios, se tornando um dos maiores sucessos no país. DJ Meme foi também convidado para integrar a Def Mix, empresa de agenciamento de carreiras que tem no casting os grandes nomes da house music no mundo – Frankie Knuckles, David Morales e Satoshi Tomiie.
DJ Meme | Fonte: Divulgação/Mapa dos Festivais
Carlo Dallanese, que foi DJ residente do club Sirena em Maresias, lançou “Monday”, um dos grandes hits das pistas daquela época e em seguida “Bring Me The Dawn”, outro grande hit. E Tiko’s Groove foi responsável pelo hit pop “I Don’t Know What To Do”, que viralizou nas pistas por ter entrado na trilha sonora de uma novela da Rede Globo.
Já o paulista Joe K revisitou a clássica “Born Slippy”, techno da banda Underworld, com sua versão sendo lançada oficialmente junto com Beto Dias e chegando em 1o lugar no chart principal do Beatport, site de venda de músicas voltado para DJs. O produtor Deeplick produziu o primeiro remix para “Ai Ai Ai” de Vanessa da Mata, se tornando mais tocado do que a versão original. E o DJ Rodrigo Vieira lançava seu primeiro álbum, “Fever Two”.
Sensation, Ultra, Tomorrowland e EDC realizam edições no país
Sensation White 2017 | Fonte: Divulgação/EDMLI
Logo depois, os grandes festivais internacionais começavam a aportar no Brasil. Sensation White, trazido pela Skol, praticamente não tinha brasileiros em seu line-up – Wehbba foi um dos únicos. Em seguida vieram Creamfields, EDC – Electric Daisy Carnival, Electric Zoo e os esperados Tomorrowland e Ultra (onde a segunda edição em São Paulo trouxe Swedish House Mafia, Major Lazer, Laidback Luke, Duck Sauce, Alesso e a banda New Order – e foi foda!).
Vieram também os festivais voltados para a música underground como o Sónar (com Hot Chip e The Chemical Brothers como headliners), DGTL, Time Warp e Dekmantel (que teve a apresentação da banda brasileira Bixiga 70).
O Rock In Rio, que sempre inovou com seu palco eletrônico desde a edição em 2001 (quando trouxe ATB, Westbam e Ferry Corsten), a cada edição surpreendia mais. Em 2013 flertaram com a música brasileira ao criar o tributo ao músico Lincoln Olivetti.
Colocar o David Guetta para tocar no palco principal do festival em 2015 foi muito importante para o mercado e abriu muito as portas do gênero para o público em geral. O grande marco foi em 2019, quando Alok tocou também no palco principal e com o lançamento do novo palco New Dance Order, numa produção jamais vista igual no país e que chamou mais atenção do que o próprio palco principal.
Alok no Rock in Rio 2019 | Fonte: Divulgação/G1 Globo
E o Lollapalooza Brasil, que trouxe Calvin Harris (que raramente toca em festivais) na edição de 2015, passou cada vez mais a aumentar o percentual dos artistas do gênero em seu line-up. Vintage Culture lotou tanto o palco que se apresentava em 2018, que ele teve que ser fechado, pois não cabia mais ninguém.
Alta do dólar x Mudanças x Novos Artistas Brasileiros
DJ ANNA | Fonte: Divulgação/DJ Sound
Só que aí vieram as mudanças econômicas no país. Por volta de 2013 a 2015, aconteceu a grande alta do dólar, que prejudicou bastante o mercado, os clubs e festivais na hora de “importar” o talento gringo, tão necessário na época como as grandes atrações dos eventos. E em paralelo, uma quantidade de novos talentos começou a surgir no Brasil, lançando músicas tão boas quanto os lançamentos internacionais.
E assim, misturando as raízes do gênero com o groove característico brasileiro, aumentando o interesse dos próprios DJs e do público antenado para os talentos nacionais. A partir daí as coisas começaram a mudar rapidamente. Outros DJs brasileiros começaram a figurar no ranking da DJ Mag, além do Felguk. Alok, Vintage Culture e Cat Dealers estreavam pela primeira vez por lá.
Clubs brasileiros entraram também para o ranking Top 100 Clubs da DJ Mag como Warung, Laroc, D-Edge e o Green Valley (em Balneário Camboriú), que se tornou o número 1 por diversos anos seguidos. O Green Valley se tornou também o club preferido em todo o mundo por DJs como Carl Cox, Fatboy Slim e Steve Angello.
Green Valley | Fonte: Divulgação/Houseando
DJs e produtores da cena underground como ANNA, Joyce Muniz, Victor Ruiz, Eli Iwasa e Wehbba, além de Gui Boratto, estabeleceram suas carreiras fora do país também. E Alok e Vintage se tornaram os dois principais artistas do Brasil, alcançando o status de ídolos e arrastando multidões de fãs para as suas apresentações, ou melhor, para os seus shows.
Quem antigamente diria que apresentação de DJ brasileiro um dia seria chamado de “show”, hein? E aí começaram a surgir inúmeros artistas talentosos com uma grande base de fãs e apresentando grandes músicas, como FTampa, Cat Dealers, Illusionize, Chemical Surf, Chapeleiro, KVSH, Dubdogz, Bhaskar, Tropkillaz, Pontifexx, Scorsi, JØRD, Evokings, Beowülf, Santti, NUZB, Curol e muitos outros.
As festas eletrônicas também se adaptaram à nossa cultura: o que era conhecido por “night” e “balada” virou “day party” e “sunset”. O nome manjado “rave” virou “open air”. Assim como a criação e a explosão dos festivais e grandes eventos em território nacional como o Universo Parallelo, Xxxperience, Warung Day Festival, Kaballah, Tribaltech, Tribe, Love Sessions, Rio Me, Sonzeira e a volta da saudosa Bunker Rave, sob o novo nome Bunker Festival.
Universo Paralello | Fonte: Divulgação/Amantes de Eletrônico
Nesse período, o Sul do Brasil se tornou o coração do gênero no Brasil. Foi criada a Só Track Boa, label de Vintage Culture, que se estabeleceu como a principal festa eletrônica itinerante atual em todo o Brasil. E artistas começaram a se apresentar em festivais mais populares, como Alok e Jetlag no Villa Mix e Cat Dealers no Festeja.
E no ranking do Top 100 da DJ Mag, começaram a entrar no ranking Alok, Vintage Culture e Cat Dealers desde 2016.
Fonte: EDM Joy
A criação de todo um mercado
Rio Music Conference | Fonte: Divulgação/ VEJA RIO
Todo um mercado começou a ser criado no Brasil. Cursos e escolas de produção musical e consultoria como a Aimec, a Make Music Now e a Academia de Marketing para DJs surgiram e se consolidaram para atender a enorme demanda por especialização no assunto. Diversos veículos surgiram como House Mag, Phouse, Play BPM (que se chamava Play EDM), Wonderland in Rave, Eletro Vibez e Alataj, além da chegada das gringas Mixmag e da DJ Mag no país.
Isso sem contar a pioneira DJ Sound, que está no mercado há 30 anos e o extinto portal Rraurl, que foi grande referência por muitos anos. E é importante citarmos o primeiro livro dedicado ao mercado e à profissão do DJ no Brasil, “Todo DJ Já Sambou”, da jornalista Claudia Assef.
Um dos momentos cruciais para o fortalecimento e união da música eletrônica no Brasil foi o surgimento do RMC (Rio Music Conference), com sua relevância fundamental para o mercado, fundado pelo empresário da indústria criativa Claudio da Rocha Miranda Filho. O RMC foi uma conferência com painéis, workshops e 5 dias de festas, inspirados nas icônica Winter Music Conference de Miami e Amsterdam Dance Event da Holanda, que assim como os dois eventos, acontece anualmente.
Em 2018, o RMC se mudou para São Paulo e passou a se chamar BRMC (Brasil Music Conference). No Rio, os 5 dias de festas pós-congresso viraram Rio Music Carnival com um headliner até então nunca imaginado, que foi sold out sempre na abertura das vendas: Dennis DJ.
Como artista de funk e autor dos principais hits do gênero no Brasil e de sua concorrida festa autoral Baile do Dennis, ele não deixa de utilizar a música eletrônica em suas produções nem em seus shows.
Rio Music Carnival 2020 – Baile do Dennis | Fonte: Divulgação
As agências de DJs foram crescendo e algumas foram surgindo para atender a demanda da venda de shows para o Brasil e para o mundo. Além da Plus Network (ex-Plus Talent), uma das pioneiras, surgiu a Entourage, Nova Bookings, Artist Factory, Box Talents e Alliance Artists.
Profissionais passaram a exercer trabalhos específicos para artistas do gênero, como o designer VA – Vinícius Araújo – responsável pelas artes de muitos DJs em todo o país. Os fotógrafos Fabrizio Pepe e Wanderson Monteiro; os curadores artísticos que cuidam do line-up de clubs e eventos, como Paula Miranda no Privilège.
Produtoras audiovisuais como a Eyedrop que começaram a gravar os primeiros after-movies dos festivais e o carioca Diogo Camargo, que passou a fazer parte das filmagens do Ultra em todo o mundo; e jornalistas especializados no assunto como Claudia Assef, Rodrigo Airaf, Gabriela Loschi, Pollyana Assumpção, Ana Luiza Cavalcante, Flávio Lerner, Yohan Augusto, Victor Flosi e Luckas Wagg (in memorian).
Agências de marketing especializadas para artistas do gênero começaram a surgir também como a The Boreal Agency. Sites e perfis em redes sociais começaram a surgir. Muitos de zoeira como o “Porra DJ” no Twitter, “Que Loucura Padrinho” e “Só Meme Boa” no Instagram, além do “Vibe Infinita” no Youtube e o podcast “Depois do After”.
Canais de curadoria musical eletrônica no Youtube e Spotify começaram a surgir na Europa, virando referência e ganhando milhões de inscritos, como Selected, This Is, Majestic Casual, Proximity e Blanc, que incluem em grande parte do seu conteúdo produções e remixes de artistas brasileiros.
O “Brazilian Bass”
Alok | Fonte: Divulgação/O Globo
O Bigroom (ou EDM para os íntimos), gênero que predominava no mercado eletrônico na década passada começava a entrar em declínio e saturação em todo o mundo. Foi então criado o movimento do Deep House brazuca, o chamado “Brazilian Bass”, idealizado por Alok.
[BIGROOM - som voltado para as massas, para ser tocado em grandes festivais e main stages de festivais, que mistura o electro e o progressive house em kicks e drops explosivos e empolgantes, barulhentos e que se baseiam em sons que lembram buzinas e o caos.]
Depois veio o Low Bass, a “sonoridade do Kungs, alegre e solar” que explodiu com o hit “This Girl”, o Desande, a explosão do tech-house, os remixes de clássicos (e também dos novos hits) da MPB e as novas produções cantadas em português, que finalmente fazem parte dos sets dos DJs, ao contrário do passado onde rolava uma grande resistência e até preconceito em lançar músicas com vocais brasileiros. E o psy trance reinventado e bombando de novo (agora chama-se “prog”).
O Brazilian Bass passa a ganhar força quando Tiësto lança, junto com o duo Sevenn o hit “Boom”, em sua gravadora Musical Freedom, utilizando a sonoridade lançada no Brasil e levando para o mundo. E quando selos como a Spinnin’ Records automaticamente criam um novo gênero, chamado Slap House, totalmente inspirado do Brazilian Bass, com grandes hits como o remix de Imanbek para “Roses”, do SAINt JHN.
Ao mesmo tempo, outros artistas focados em sonoridades diferentes e menos populares do gênero surgem criando ótimas músicas e grandes referências, como Fatnotronic, Boss In Drama, DJ MAM, Omulu e ÁTØØXXÁ.
E o preconceito dos DJs com os gêneros mais populares passou a ficar de lado, quando Chuckie tocou uma música de Luan Santana no Green Valley, e quando Hardwell tocou o hit de funk “Baile de Favela”, do MC João no Carnaval em todo o Brasil, lançando posteriormente seu remix oficial para a música. Desde então, diversas sonoridades e gêneros passaram a ser incluídos nos sets de muitos DJs de música eletrônica, como hip-hop, funk, rock, sertanejo e o tecnobrega.
Quem diria que ouviríamos os DJs tocando “Evidências” de Chitãozinho & Xororó, “Ripa na Xulipa” de Rabo de Saia, “Secretária” de Amado Batista e “Baby Shark”, que tem até remix do americano Jauz? A zoeira agora é sempre bem-vinda!
Os selos e gravadoras
Com todo o movimento acontecendo, com a quantidade de músicas sendo lançadas e novos artistas surgindo, começaram a surgir os primeiros selos independentes nacionais e isso começou a chamar a atenção das majors no Brasil, que são as grandes gravadoras (Sony, Warner e Universal).
A Trama foi a primeira gravadora a lançar lá na época do Skol Beats os primeiros singles, álbuns, DVDs e compilações do gênero. Fieldzz, Paradoxx e Spotlight lançaram as principais coletâneas de dance music internacional dos anos 90.
Mas olhando o novo mercado nacional, surgiram a Mix Feed (que começou como uma conta no Soundcloud), Up Club (do Alok), Só Track Boa (do Vintage Culture), Sublime Music (do Gabe), Braslive, Alphabeat e O Problema É Grave, entre outros, além do Austro Music, aposta da gigante Som Livre no mercado nacional em 2016 e da HUB Records, da Sony Music, em 2018.
A Skol lançou seu selo em 2015 também, o Skol Music, que tinha três segmentos, um deles voltado para a música eletrônica (“Buuum”), com direção de Coy Freitas. Outras gravadoras como a Universal Music começaram a contratar artistas como Bruno Martini, CIC, Elekfantz, Selva e Liu, além da gestão de selos como Aftercluv e Libool.
Já a Sony contratava FTampa, KVSH, Beowülf e Cat Dealers, entre outros. E atualmente, Alok criou seu novo selo – CONTROVERSIA, que se consagra como um dos maiores do Brasil.
A virada de chave e as conquistas
Tudo isso fez mudar de vez o line-up das festas e também os set lists dos DJs brasileiros: hoje em dia vemos festivais onde os headliners são os brasileiros e onde os gringos deixaram de ser os únicos protagonistas. E festivais internacionais como o Tomorrowland, em que os brasileiros estão indo tocar com muito destaque e muitos no Main Stage.
Como citamos, temos grandes produções aqui como “Hear Me Now” de Alok, Zeeba e Bruno Martini (lançada pela Spinnin’ em 2016), até então considerado o maior hit da música eletrônica nacional, com mais de 1 bilhão de streams nas plataformas digitais.
Outros hits produzidos aqui se tornaram mais importantes que os sucessos internacionais dos principais charts mundiais, sendo as mais tocadas nas pistas e presente nas playlists do público brasileiro apaixonado por música eletrônica.
Artistas brasileiros começaram também a ser convidados para assinarem collabs e produzirem remixes para os gringos. Alguns nomes de grande sucesso foram: Cat Dealers com Goldfish, Redfield, R3hab, Ava Max e Sam Feldt; Beowülf com Skazi; Fatnotronic com Kraak & Smaak.
Além disso, vimos: Vintage Culture com uma galera: Jorja Smith, David Guetta, Bob Sinclar, David Guetta, Meduza, Elderbrook, John Summit, Louie Vega e The Martinez Brothers; JØRD e Dubdogz fizeram remixes para o Galantis; FTampa fez para Pink; Shaggy e Sting elegeram Tropkillaz para remixar “Don’t Make Me Wait”. E Alok foi convidado para remixar Mick Jagger, Dua Lipa e Meduza.
Ao mesmo tempo, brasileiros começaram a ser contratados para lançar suas músicas nos principais selos internacionais como Armada, Toolroom, Axtone, Cajual, Get Physical, STMPD RCRDS, Defected e Spinnin’ – maior selo eletrônico do mundo, que depois de ser adquirida pela Warner Music começou a ficar de olho no mercado nacional e a lançar músicas de diversos artistas. Alguns deles foram Alok, Vintage Culture, Dubdogz, LOthief, Cat Dealers, Felguk, Bhaskar, Dux e Volkoder.
E no Brasil, DJs começam a fazer também parcerias e remixes para artistas da MPB. Bruno Martini com Tribalistas; Felguk e Cat Dealers com Vanessa da Mata; Alok com Seu Jorge e Lenine; Le Dib e Diskover com Vitor Kley; Manimal com Mahmundi e Lagum; Bhaskar com Silva e Anitta; Shapeless com Maria Gadu; Zerb com Giulia Be; Dubdogz e Bruno Be com Skank; Double MZK com Zeca Baleiro.
O cenário também recebeu: Diogo Strausz para Gal Costa e BaianaSystem; Clubbers e Joy Corporation com Jota Quest; Felguk para Jorge Ben Jor; Vintage Culture fazendo remixes para Charlie Brown Jr, Cazuza e Gilsons, e diversos artistas como Chemical Surf, Dubdogz, DJ Marky, Gui Boratto e Mary Olivetti lançando remixes para Rita Lee, em um projeto inovador de 3 álbuns com a curadoria artística de João Lee, filho da cantora.
As lives e a pandemia de COVID-19
Não só no offline, começaram a surgir projetos digitais como o Boiler Room e Cercle, onde DJs são convidados para tocar sozinhos ou para poucas pessoas, sempre ao vivo pela internet. Sendo assim, as lives já aconteciam muito antes da chegada da pandemia no mundo. No Brasil, aconteceram duas edições do Boiler Room (em Recife e no Rio) e uma do Cercle, no Pão de Açúcar, com o duo ARTBAT.
Isso certamente serviu como inspiração e solução também para o momento de isolamento social, necessário durante a pandemia de COVID-19 em todo o mundo. Com isso, os DJs (os brasileiros principalmente) foram os primeiros artistas a começarem a fazer as lives na internet, antes de todos os artistas de outros gêneros musicais.
Vintage Culture e o seu “Bailão Elétrico” em uma live que durou 50 horas; Alok nas lives transmitidas pela Rede Globo; e Cat Dealers com a residência nas lives da Insomniac criaram momentos históricos para os artistas e para a música eletrônica no digital.
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