Tendências começam como faíscas em padrões de comportamento que ganham força coletiva. São como pistas de navegação que – quando bem observadas, podem apontar o rumo antes que a maioria o enxergue.
Segundo a WGSN, tendências emergem quando novos comportamentos encontram força coletiva, capturam o zeitgeist – o espírito do tempo – e acabam por moldar o que vem a seguir.
Já para identificar uma tendência é preciso observar movimentos que conectam o contexto cultural às mudanças de valores e hábitos. Na música, especialmente na época natalina, essas faíscas são amplificadas pela nostalgia e o aspecto emocional que as pessoas buscam.
Afinal, o que essas preferências revelam sobre o público de hoje?
Mais importante, o que isso pode significar para quem deseja se conectar com ele?
Os hits de Natal na era do streaming e o fenômeno Mariah Carey
Os serviços de streaming como Spotify e Apple Music ampliaram o alcance das músicas natalinas, mas também tornaram-se verdadeiros tradutores do comportamento sazonal, especialmente na temporada de festas.
Clássicos como All I Want for Christmas Is You, de Mariah Carey, e Last Christmas, do Wham!, continuam dominando as playlists e charts globais todo mês de dezembro. Porém, dados indicam que essa temporada está começando cada vez mais cedo e durando cada vez mais tempo.
Segundo dados da plataforma Chartmetric, o consumo do hit de Carey não só tem alcançado picos maiores com o tempo, mas esses picos têm se antecipado ano após ano.
Em 2021, por exemplo, o número de ouvintes mensais da cantora saltou de 16,1 milhões em outubro para 62,2 milhões em janeiro. Em 2022, o salto foi ainda mais expressivo: de 19,5 milhões para 72,3 milhões.
O padrão se manteve em 2023. No início de outubro, Carey tinha 25,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Em janeiro, esse número alcançou impressionantes 86,1 milhões.
Até a produção desse artigo – em dezembro de 2024, ela acumulava 62,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, ocupando a 24ª posição global da plataforma, à frente de nomes como Beyoncé. Apenas dois meses antes, em outubro de 2024, ela tinha 27 milhões de ouvintes.
Ou seja, o momento de “descongelar” a cantora, que tornou-se uma brincadeira na internet, tem sido um momento cada vez mais esperado. Ao entrar na conversa com conteúdos anunciando a temporada, Mariah mostrou que está atenta e vem sabendo aproveitar a sazonalidade melhor do que nunca.
Esse movimento demonstra o apelo único da temporada natalina. Diferente de outras celebrações, cujas músicas costumam estar ligadas a contextos mais religiosos, o repertório natalino vai além desse aspecto e expandiu-se como parte integral da cultura pop.
Ele se conecta ao público de forma ampla, abrangendo não apenas a música, mas também filmes, tradições alimentares e memórias coletivas. É essa integração cultural que transforma hits como os de Mariah Carey em fenômenos globais, celebrados anualmente.
Os dados mostram que playlists em streamings, como as criadas pelo Spotify, têm impacto direto nas escolhas do público. Ao combinar inteligência artificial com curadoria humana, plataformas conseguem promover faixas tanto para novos ouvintes quanto para aqueles que buscam nostalgia.
Isso reflete uma audiência que valoriza a inovação e o conforto do conhecido para explorar músicas no Natal.
No entanto, será que esse consumo vai além dessas canções icônicas? Afinal, onde estão os novos hits natalinos?
Os desafios e a reinvenção das músicas de Natal
Talvez criar um novo hit de Natal nos dias de hoje seja quase como decifrar um enigma. Segundo Barbara Ellen do The Guardian:
“a nostalgia natalina é uma força poderosa na cultura popular”.
No passado, o “Christmas hit No. 1” era um marco cultural e motivo de grande entusiasmo. No entanto, o crescimento do streaming e a fragmentação da indústria musical reduziram significativamente a importância e o impacto desses hits festivos.
A ausência de sucessos sazonais duradouros nos últimos anos reflete a dificuldade em equilibrar a inovação com a essência natalina.
Afinal, diferentemente do passado, quando as rádios exerciam enorme influência, hoje a relevância de uma faixa depende de uma complexa rede de fatores, como algoritmos, campanhas de marketing e conexão emocional com o público.
Exemplos como Mistletoe, de Justin Bieber lançada em 2011, e Christmas Tree Farm, de Taylor Swift que saiu em 2019 – mostram como até jovens artistas consolidados precisam se esforçar para conquistar espaço em meio aos gigantes do passado.
Com isso, artistas e gravadoras têm adotado estratégias criativas para superar essa barreira. Em 2021, Ed Sheeran e Elton John lançaram “Merry Christmas“, apoiada por uma ampla campanha que incluiu audiovisual e parcerias beneficentes. A música rapidamente se destacou, mostrando que a colaboração pode ser uma ferramenta poderosa para engajamento.
Um exemplo recente de sucesso vem da cantora Sabrina Carpenter. A artista da Pensilvânia tem se destacado nos últimos anos entre a Geração Z e vem colhendo frutos por produções que celebram o espírito natalino.
Em novembro de 2023, ela lançou o EP Fruitcake, composto por seis faixas que combinam seu estilo pop com temas festivos, em uma mistura de canções originais e releituras de clássicos.
Em dezembro de 2024, a cantora protagoniza o especial chamado “A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter” na Netflix, com participações de artistas como Shania Twain, Tyla, Kali Uchis e Chappell Roan, oferecendo performances musicais e esquetes cômicas que brincam com a essência das festas de fim de ano.
Com um público predominantemente jovem e altamente ativo nas redes sociais, Sabrina nos ajuda a observar o impacto de plataformas como Tik Tok no consumo e descoberta musical durante a temporada natalina.
Enquanto artistas contemporâneos utilizam essas ferramentas para expandir o alcance de seus trabalhos sazonais, canções tradicionais, como Feliz Navidad, de José Feliciano, também têm encontrado novas audiências ao serem incorporadas em trends nas redes.
Músicas de Natal queridinhas dos brasileiros
No Brasil, a música desempenha um papel central nas celebrações de fim de ano, criando a trilha sonora perfeita para momentos de confraternização.
Um dos exemplos mais marcantes é “Então é Natal”, de Simone, uma adaptação do clássico “Happy Xmas (War is Over)” de John Lennon. Lançada em 1995, a música rapidamente ganhou popularidade e relevância cultural no Brasil, sendo amplamente reproduzida em eventos familiares e programações televisivas. Sua melodia nostálgica e mensagem de esperança encapsulam perfeitamente o espírito natalino.
Ao observar os charts do Spotify em 25 de Dezembro de 2023, notamos que a faixa “Então É Natal” apresentou um dos maiores crescimentos, na frente de clássicos globais como “Last Christmas“.
Evidenciando que – embora os clássicos internacionais sejam sempre presentes, o repertório nacional também se destaca com canções que se tornam hinos em diferentes grupos para a temporada natalina.
Nos últimos anos, o cenário musical brasileiro incorporou sucessos contemporâneos que dialogam com o público jovem, especialmente por meio de gêneros como funk e piseiro.
“25 é Natal, 31 é Ano Novo”, de Barca na Batida, Luanzinho do Recife e MC GW e “Dingo Bell“, de MC Teteu – foram dois grandes exemplos a viralizar nas redes sociais nos últimos anos. Com batidas envolventes e letras descontraídas, os jovens artistas mostraram como os hits natalinos também podem ser dançantes, refletindo o clima das festas de final de ano das periferias brasileiras.
Plataformas como TikTok e Spotify têm desempenhado um papel importante na popularização desses, e de tantos outros hits natalinos. Esse ecossistema digital portanto tem sido fundamental para reviver os clássicos, mas também ampliar a visibilidade de talentos emergentes e inovações musicais.
Essas movimentações sugerem que, para um hit sazonal ter sucesso hoje, o mais importante é conseguir conectar-se com o público em múltiplos níveis: emocional, cultural e tecnológico.
Oportunidades e dicas para marcas
Movimentos e tendências como as destacadas aqui oferecem insights valiosos para quem deseja criar campanhas mais relevantes e alinhadas aos valores do público-alvo.
Deixamos aqui três dicas práticas para aproveitar o poder da música nesse Natal – e durante o ano inteiro:
Apoie-se em dados para decisões mais precisas
Use ferramentas como o Spotify Charts e relatórios de tendências para identificar padrões de comportamento e prever preferências regionais ou globais. Isso pode guiar desde a escolha de trilhas sonoras para campanhas até o momento ideal para lançamentos.
Inspiração:
A campanha natalina “We are the Spirit of the 200%”, da Buchanan’s Blended Scotch Whisky, utilizou insights culturais para celebrar como a comunidade hispano-americana nos EUA une tradições familiares antigas com novas celebrações modernas durante as festas de fim de ano.
A marca construiu sua narrativa ao reconhecer a dualidade de ser 100% hispânico e 100% americano, batizando um dos vídeos de “200% Mixtape”.
A campanha incorporou eventos como jantares de fim de ano e receitas de coquetéis criados por bartenders mexicano-americanos, conectando-se com o público em momentos-chave das celebrações natalinas.
Os eventos e ativações foram guiados por dados que mostraram a importância das tradições compartilhadas na construção da identidade dessa comunidade durante as festas. Demonstrando assim, como a análise de padrões culturais e comportamentais pode criar campanhas natalinas mais relevantes, aumentando a relevância emocional e cultural da marca.
Reforce a narrativa emocional
Músicas de Natal funcionam como um elo entre memória e emoção. Escolher trilhas que ressoem com valores culturais específicos pode criar conexões autênticas. A inclusão de storytelling musical em campanhas reforça a mensagem principal e aumenta o engajamento.
Inspiração:
A campanha natalina da Bauducco deste ano, intitulada “A Magia do Natal começa com Bauducco”, usou uma narrativa que une tradição e emoção para destacar seu icônico Panettone.
O filme publicitário se passa em um aeroporto, onde passageiros enfrentam o cancelamento de voos na véspera de Natal, causando desânimo geral. A história é transformada pela ação de uma criança que distribui fatias de Panettone Bauducco, trazendo de volta o espírito natalino e unindo as pessoas.
A trilha sonora, uma versão instrumental de “Con te Partirò” – eternizada por Andrea Bocelli, foi escolhida para evocar sentimentos de união e a herança italiana da Bauducco. Dessa forma, conectando o público à história da marca e do produto tão característico do momento festivo.
Invista na música para alcance e relevância
Marcas podem colaborar com artistas e/ou criadores do meio musical como uma estratégia para impulsionar o alcance e combinar inovação e nostalgia.
Com uma boa curadoria de artistas que compartilhem valores e visões com a marca, é possível elaborar ações que provocam engajamento autêntico. Além disso, playlists personalizadas são ótimos recursos para criar experiências sonoras que envolvem diretamente o público-alvo na temporada natalina.
Inspiração:
Anualmente, buscamos evidenciar a temporada natalina também dentro do nosso portfólio através do music branding. Marcas como Melissa, com centenas de lojas espalhadas pelo Brasil e no exterior, precisam garantir uma experiência coerente e personalizada nos espaços.
Mas acreditamos que a música sempre pode ir além da trilha ambiente.
Como responsáveis pela identidade musical e curadoria da trilha sonora das lojas, buscamos estender a conexão com o cliente e a lembrança de marca por meio de plataformas como Spotify. Assim, os clientes podem ouvir as playlists da Melissa em qualquer lugar e a qualquer momento.
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