Esse texto sobre os principais gêneros musicais e artistas ouvidos pelos jovens atualmente já está indo para sua terceira atualização. A primeira edição em 2019 foi revisada em 2020 e agora apresentamos sua terceira edição em 2023.
No geral, alguns fenômenos musicais citados no texto inicial se mantém atuais, mas não são mais novidade, enquanto vimos outros comportamentos surgirem.
Dessa forma, é interessante fazer esse recorte temporal para registrar por quanto tempo algumas tendências permanecem ativas no comportamento de consumo de música dos jovens e quais outras vão surgindo no caminho.
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A música tem o poder de traduzir o espírito do nosso tempo. Foi assim com os hippies no final dos anos 60, com os punks nos 80, o grunge nos 90 e o pop dos anos 2000, etc.
Ela sempre teve uma força muito grande principalmente entre os jovens, que a utilizam como uma ferramenta de expressão que representa suas angústias, ideias, visões de mundo. A música ajuda o jovem a expressar a sua personalidade.
E o comportamento do jovem, por sua vez, nos dá indicativos de tendências e novas formas de perceber a sociedade em geral. Ou seja, melhor ficar de olho neles 😉
Aqui no Bananas Music estamos sempre ligados nas tendências de consumo de música para propor as melhores estratégias para os nossos clientes, principalmente os que possuem os jovens como público consumidor.
A Youcom, por exemplo, é uma marca de lifestyle jovem e nasceu para ser uma plataforma de expressão para esse público. Como agência de curadoria musical da marca, estamos em constante pesquisa sobre o universo musical dos jovens brasileiros de forma a traduzir esses insights em estratégias de marketing.
De onde vêm esses insights?
Esse texto nasce da observação diária de charts, dos resultados de nossas tecnologias proprietárias, notícias e reports de outros pesquisadores, acrescidos do nosso próprio senso crítico.
Nosso objetivo é dividir algumas das macro tendências e padrões que observamos nos estilos de música mais consumidos pelos jovens e como esses padrões de comportamento podem ser relevantes para tomada de decisão em outras áreas que não necessariamente a música.
1) Versões Sped up: a tendência das músicas aceleradas
Começamos o texto com uma novidade em relação às versões anteriores. O TikTok foi inundado por versões aceleradas de músicas já conhecidas e o que parecia ser apenas um viral da rede social se tornou uma nova forma de consumo de música pelos jovens.
Os fãs estão acelerando as músicas entre 30% e 50% e as chamadas “sped up versions” dominaram não só o TikTok. O Youtube e SoundClound também estão hospedando versões aceleradas não oficiais de faixas produzidas por fãs. No fim, eles oferecem às pessoas uma nova maneira de experimentar músicas que conhecem e amam, mas das quais se cansaram – e ainda tem muita gente que nem conhece a versão original da música, só as versões sped up.
O sucesso foi tanto que as gravadoras lançaram suas próprias versões sped up e disponibilizaram para as plataformas digitais. A playlist Sped Up Songs do Spotify já está com mais de 1,4 milhões de curtidas e tem 4 horas e meia de duração.
A consequência mais imediata dessa tendência é trazer de volta músicas de catálogo, ou seja, lançadas há mais de 18 meses, o que acaba sendo muito lucrativo para as gravadoras detentoras dos royalties das músicas.
Falamos sobre a valorização da música de catálogo e seus principais impactos no Bananas Music Trends 2023.
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Vale lembrar que a tendência de produzir versões aceleradas não é uma completa novidade. A prática se popularizou como um estilo chamado nightcore nos anos 2000. Logo, as versões aceleradas podem fazer parte de uma tendência muito maior de retorno aos anos 2000, a Y2K, também popularizada no TikTok.
A exemplo das sped up songs temos também as versões desaceleradas e reverberadas fazendo sucesso nas redes sociais. Os produtores diminuem o andamento de uma música para 60 ou 70 semínimas por minuto e, em seguida, adicionam alguns saltos, arranhões e momentos de parada.
2) Sertanejo multigênero e o “hip-roça”
Sabemos que o sertanejo é o gênero musical mais ouvido por jovens de 15 a 29 anos no Brasil. O que é interessante comentar é que, quando se fala de sertanejo no Brasil, estamos falando de uma dezena de outros gêneros e subgêneros que também são contados como tal em plataformas de streaming como Spotify.
Chamamos aqui de sertanejo multigênero aquelas músicas que foram literalmente misturadas com outros estilos musicais para dar vida – e números – a um estilo novo de música. E só dá isso nos charts Top Brasil do Spotify.
A música “Dentro da Hilux”, de Luan Pereira, MC Daniel e MC Ryan SP é um exemplo de um “novo sertanejo” mesclado com funk, não só na sonoridade, mas também como expressão de um lifestyle do vaqueiro moderno e que assume a persona do funk ostentação.
Além de uma tendência cultural, a mistura de gêneros musicais é uma estratégia de marketing para ampliação de público, onde os fãs de um artista se somam aos fãs do outro.
Pegando o mesmo embalo vemos a nova geração de forrozeiros levando para os charts o forró de vaquejada – nome dado ao gênero que mistura o forró raiz com ritmos como funk e brega.
A música “Americana na Vaquejada”, de Grandão Vaqueiro e Nattan, já conta com quase 9 milhões de visualizações no Youtube em apenas 1 mês. A música figura no Top 50 Brasil no Spotify.
Outro fenômeno na lista dos mais ouvidos do país é a cantora Ana Castela, de 19 anos. Na sua conta do Instagram, a jovem conta como decidiu investir na trajetória musical depois de um vídeo seu viralizar nas redes sociais.
A cantora já tem feats importantes na carreira, como Wesley Safadão e Naiara Azevedo. No dia que esse texto foi escrito, ela estava em 8 das 50 músicas mais ouvidas no Brasil, incluindo a Top 1 “Nosso Quadro”.
O ponto em comum entre as músicas citadas é justamente a mistura do sertanejo com beats eletrônicos e DJ sets muito presentes em outros gêneros musicais como o funk.
Disclaimer: a sonoridade resultante dessa mistura está sendo chamada de “hip-roça”, nome dado pela dupla US Agroboy. A dupla estreou no Youtube em 2021 e o canal já conta com aproximadamente 130 milhões de visualizações
“US Agroboy fazem a junção do agro, da fazenda e do sertanejo de raiz com a cultura hip-hop. Intitulado “hip-roça” pelos próprios artistas, as músicas contam com elementos do rap, trap e funk e trazem para o cenário musical uma nova vertente, que visa enaltecer o estilo de vida da roça, sem deixar de lado a linguagem mais jovem e atual.“ (trecho da biografia dos artistas no canal do Youtube).
Falamos sobre essas combinações musicais no Bananas Music Trends 2023, o nosso report de tendências musicais.
Fazendinha Sessions e o legado do rap acústico
No texto anterior, falamos sobre como o rap acústico estava em alta entre os jovens. O que parecia despretensioso, rap entre amigos, com violão e cajon, se tornou um fenômeno no Youtube. Uma pessoa que nunca ouviu falar de Poesia Acústica certamente já passou dos 30.
O que vimos surgir em 2022 foi uma versão agro do Poesia Acústica. O formato do rap acústico criado em 2017 – e que ainda faz sucesso em sua 13ª edição, foi adaptado pela nova geração do sertanejo e recebeu o nome de “Fazendinha Sessions”. A sonoridade das músicas apresentadas nesses vídeos é a mesma mistura de sertanejo com beats eletrônicos citada anteriormente.
No dia em que esse texto foi escrito, o Fazendinha Sessions estava em sua 3ª edição, contando com a participação dos maiores nomes do sertanejo multigênero da atualidade: Ana Castela, Luan Pereira e US Agroboy, entre outros.
3) Afrobeats em alta
Calma, não estamos falando do afrobeat de Fela Kuti. Podemos dizer que Fela Kuti é o avô do gênero musical que tem se popularizado no Brasil, muito por conta do seu consumo por jovens: o afrobeats, com S.
O afrobeats como conhecemos hoje é mais um termo geral do que um gênero musical em si. Ele caracteriza a música urbana da Nigéria que ficou popular em 2011, após um DJ londrino dar esse nome a um programa de rádio com foco em músicas do oeste africano.
E se você está acompanhando bem esse texto, já deve imaginar que o afrobeats também se populariza através de uma mistura de gêneros: no exterior, ele se mistura com o pop (afropop), R&B, reggae, dancehall. Aqui no Brasil, os ritmos afro eletrônicos chegam condensados principalmente com rap e trap.
Ainda vamos ouvir muitos afrobeats brasileiros populares entres os jovens. O rapper Orochi anunciou que lançará em breve um álbum com essa sonoridade. Ou seja, é bom ficarmos atentos a esse movimento.
4) Romancinho R&B e o trap continuam em alta
Nos textos anteriores falamos sobre a crescente popularização do R&B como a música romântica & sexy dos jovens ouvintes.
Os apaixonades continuam declarando seus amores através do gênero musical importado dos Estados Unidos, mas com o toque brasileiro para o público jovem que consome bastante rap e trap por aqui.
O EP Contradições, do rapper paulista KayBlack, estreou em março com todas as 7 músicas nos charts brasileiros e, quando esse texto foi escrito, ainda mantinha 3 músicas no Top 50. As letras são emotivas e contam sobre um relacionamento complicado.
Nessa vibe também vemos o MC Cabelinho ganhando projeção com seu álbum “Little Heart”, que conta com feats como Anitta e Belo na versão Deluxe. WIU é outro nome do trap romântico que figura nos charts das músicas mais ouvidas no Brasil.
5) Lo-Fi ainda em alta e para todos os gostos
Um estilo de som quase sempre instrumental e bastante funcional, utilizado para estudar, relaxar e até para dormir. Tem muita ligação com a internet, com o Vaporwave e com o Hip Hop, tanto que ficou conhecido também como Lo-Fi Hip-Hop.
As playlists de Lo-Fi se tornaram um fenômeno no YouTube, com canais transmitindo listas em vídeos ao vivo 24 horas por dia, todos os dias da semana.
O canal Lofi Girl, que ficou famoso durante a pandemia como ponto de encontro da hashtag “#withme” (“comigo”), lançou um novo personagem em abril deste ano, instantaneamente apelidado de Synth Boy pelos fãs. O vídeo “synthwave radio – beats to chill/game to” toca 24 horas ininterruptas de synthwave.
O estilo é uma homenagem à cultura pop dos 1980, com batidas que remetem aos filmes de terror, sci-fi e ação daquela época e tem esse nome por expressar o som do sintetizador, instrumento popular da época.
Imagem: Superinteressante
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E aí? Se sentiu velho? Não se preocupe que não é só você: está realmente difícil acompanhar todos os movimentos na música consumida pelos jovens hoje em dia. Por isso mesmo resolvemos compartilhar esse report 🙂
Espero que ele tenha te ajudado a perceber quais são os movimentos culturais e musicais mais relevantes, as mudanças mais importantes e o que continua igualzinho à época em que você era adolescente. #saudades
O time de curadoria do Bananas Music mapeia as tendências de comportamento de consumo de música para propor as melhores estratégias de negócio dos nossos clientes. Diz pra gente: qual é o próximo desafio musical da sua marca?
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